É normal que as crianças sejam mais expansivas e dadas à comunicação, mesmo que de jeitos singulares. O que fazer quando percebo que uma criança é introspectiva demais, passando muito tempo sozinha e em suas próprias divagações?
Para dentro e para fora: dois movimentos da alma humana
Segundo a doutrina católica, todo homem e mulher, quando nascem, possuem inatos em seu coração princípios que os fazem reconhecer a realidade. Estes se dividem em duas partes, os intelectuais e os morais.
Um deles, um dos primeiros que se manifesta, é o princípio de identidade. É quando o pequeno percebe que ele é algo que o outro não é, e o outro é algo além dele. Ele não sabe explicar, dado sua idade, mas sabe que existe algo fora dele e independente dele.
Deste princípio surge um princípio de não contradição, listado por Aristóteles, em sua Metafísica, como: “Algo não pode ser e não-ser ao mesmo tempo, sob o mesmo tempo e o mesmo aspecto”.
Assim, dividido entre essas duas realidades, ele próprio e os outros, a criança vai crescendo e aprendendo. O crescimento saudável, portanto, passa por estes dois movimentos: o olhar interno, para conhecer a si mesmo, suas preferências e gostos, e o olhar para o externo, para conhecer o mundo que o cerca e as pessoas que o habitam.
O que é a introspecção?
A introspecção consiste no movimento para dentro, quando o olhar da criança se detém muito em si mesma. Inicialmente não como uma forma de egoísmo, mas sim de reconhecimento. Quais suas tendências, quais são seus sonhos e desejos, seus encantos e suas formas de inspiração.
Porém, essa introspecção pode, em certo momento, tornar-se prejudicial para o desenvolvimento da criança: ela perde contato com o mundo externo, e começa a pautar todas as relações com base apenas em si mesma, podendo evoluir para um amor-próprio excessivo.
O pai ou o professor precisam ficar atentos para este movimento interno da criança, e a auxiliar, caso fique presa demais dentro de si mesma.
Quais as causas da introspecção?
Santo Agostinho, grande santo da Igreja, sempre repetia esta frase quando falava da maldade humana: “Não há pecado que homem possa cometer que eu mesmo não cometa”. Ou seja, qualquer ser humano pode chegar em a altos graus de maldade se não for devidamente barrado, seja por condições naturais (auxílio da sociedade) ou sobrenaturais (auxílio da graça divina).
Assim, não podemos negar que muitas vezes a introspecção entre as crianças se dá pelo bullying e pelo divertimento inconsequente dos outros jovens. Tais repressões maldosas podem fazer a criança optar por fechar-se em si mesma e esquecer que existe um mundo lá fora, bonito e saudável, que precisa ser explorado e amado.
Entretanto, muitas vezes a causa da introspecção está no temperamento da própria criança. É a principal característica dos melancólicos, como afirma o Padre Timón-David: “este temperamento é o mais difícil de descobrir, porque se esconde com cuidado; o disfarce voluntário ou inconsciente é da própria essência do melancólico”. A solidão é, por isso, sua principal aliada neste movimento exagerado para o interno.
Como ajudar um introspectivo?
A principal tarefa do educador será infundir no introspectivo uma autêntica piedade: “amor e confiança em Deus, fé em suas promessas à base dos mistérios consoladores da Religião. Depois de algum pecado grave, não insistir em sua gravidade: os melancólicos a conhecem de sobra; mais vale mostrar-lhes a possibilidade e facilidade do perdão”. (Padre Timón-David).
A solidão é opressiva por si só, na maioria das vezes; portanto, estar disponível, deixar claro para a criança e para o jovem que pode contar com sua ajuda e comunicação, mesmo quando o mundo parecer ir lhe contra, é importantíssimo para a educação do introspectivo.
Encontrar uma boa amizade com quem seja fácil conversar ou também um mentor que o ajude a avançar sem medo podem ser ótimas formas de modelar a introspecção em vida interior, ou seja, equilibrar as duas formas de relacionamento do homem: consigo mesmo e com os outros.
留言